Desenho mediúnico
Observações sobre o Desenho da Casa de Mozart
Um de nossos assinantes escreveu-nos o que se segue, a propósito do desenho que publicamos em nosso derradeiro número:

“Diz o autor do artigo: A clave de sol é aí freqüentemente repetida e, coisa bizarra, jamais a clave de fá. Quer me parecer que os olhos do médium não teriam percebido todos os detalhes do rico desenho que sua mão executou, pois um músico nos assegura que é fácil reconhecer, direta e invertida, a clave de fá na ornamentação da base do edifício, no meio da qual mergulha a parte inferior do arco do violino, assim como no prolongamento dessa ornamentação, à esquerda da ponta da tiorba. Além disso, o mesmo músico pretende que a forma antiga da clave de dó também apareça nas lajes que se avizinham da escadaria da direita.”

Observação – Inserimos esta observação com tanto maior satisfação quanto prova até onde o pensamento do médium permaneceu alheio à confecção do desenho. Examinando os detalhes das partes assinaladas, reconhece-se,com efeito, as claves de fá e de dó, com que o autor, ainda que não o suspeitasse, ornamentou o seu desenho. Quando o vemos trabalhando, percebemos facilmente a ausência de qualquer concepção premeditada e de qualquer vontade própria; arrastada por uma força estranha, sua mão imprime ao lápis ou ao buril o mais irregular movimento, contrário aos preceitos da arte mais elementar, deslizando sem cessar com incrível rapidez, de uma extremidade a outra da prancha, sem interrupção, para retornar cem vezes ao mesmo ponto. Todas as partes são assim começadas e ao mesmo tempo continuadas, sem que qualquer delas se complete até que se inicie a outra, resultando, à primeira vista, um conjunto incoerente, cujo objetivo só é compreendido quando tudo está terminado. Essa marcha singular não é peculiar ao Sr. Sardou; vimos todos os médiuns desenhistas procedendo do mesmo modo. Conhecemos uma senhora, pintora de mérito e professora de desenho, que gozava dessa faculdade. Quando desenha como médium opera, mau grado seu, contra todas as regras, através de um processo que lhe seria impossível seguir quando trabalha sob sua própria inspiração e em seu estado normal. Seus alunos, dizia, ririam bastante se lhes ensinasse a desenhar à maneira dos Espíritos.
Allan Kardec
R.E. , setembro de 1858, p. 399